domingo, novembro 16

Novas fronteiras

Quando me perguntaram se era isso mesmo que eu queria, eu respondi: não sei. Essa minha dúvida, estabelecida por uma educação muitas vezes metódica e pragmática, veio através de conceitos ás vezes pré-definidos ás vezes mentirosos, onde a única certeza era que se eu quisesse ser bem sucedido, era só fazer algum curso que me projetasse para um futuro próspero e irritantemente estável. Formaria aos 25, casaria aos 30, e provavelmente aos 40, descobriria que tenho diabetes e algum nutricionista indicado por minha secretária me passaria uma dieta incrivelmente milagrosa.
Teria uma bela casa, um belo carro, belas roupas, comeria em belos restaurantes, enfim, a beleza estaria impregnada no meu conceito de sociedade. Leria os jornais e navegaria menos na internet. Podia até escrever um livro sobre a vida.... do meu cachorro, ou então sobre a maravilhosa experiência de ter filhos.
Quando me perguntaram se eu estava certo sobre minha escolha, eu respondi: talvez. Possivelmente pela minha capacidade inexplicável de buscar o novo, de quebrar as fontreiras - mesmo quebrando a cara tambem - de saber que não sei nada além do que me foi designado a saber, e querer saber ainda mais. O fato de não estar sempre certo, de não saber do amanhã e deixar a vida correr na velocidade dos meus pensentos é tão fascinante que, aos poucos, minha capacidade de entender essa instabilidade permeia o ridículo.
Não que isso seja ruim, pelo contrário, é excitante não estar sempre no controle, de depender do acaso, da sorte, da vontade alheia. E quando nos damos conta de que nossa vida passa exponencialmente, temos a certeza da nossa falta de certezas.
Quando me perguntaram se me arrependo do que escolhi, eu repondi: não, não mesmo!
Arrepender é ter a certeza do auto-controle. É ser apto à uma segunda chance. E mesmo que se arrepender seja o melhor caminho, eu me recuso. Não me arrependo de ser confundido com artista plástico ou invés de ter decorado a Constituição. Não me arrependo de me chamarem de publicitário ao invés de estudar anatomia. Não me arrependo ser estúpido o bastante pra desvincular arte e cultura ao invés de construir prédios.
E quando me perguntaram se está valendo a pena, eu respondi: sim.
Porque quanto mais você atravessa as fronteiras, sua fome por novas fronteiras se fortifica. O alimento é muito fácil de se encontrar, depende da sua criatividade: pode estar aqui, na cidade vizinha, em outro estado, em outro pais, e outro continente, em outro mundo. Tudo vai depender da sua fome.

2 comentários:

zakarewicz disse...

Eu acho que esse negócio de não se arrepender de nada, coisa de gente orgulhosa. hehehe

Mas, no mais. Adorei o texto, ele abriu meu apetite para as boas coisas da vida!!

Parabéns, pra tu! E escreva mais vezes!!

Anônimo disse...

Acho q vou ali fazer um miojão! heheheheheheh